sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Um tiro de misericórdia no agonizante Boi do Piauí

          Alguns poucos piauienses indignaram-se com a notícia de que o bumba-meu-boi do Maranhão é agora patrimônio imaterial do Brasil. O estado vizinho está em festa pela conquista de um título perseguido há pelo menos um ano, quando começaram os tramites para a titulação.
          Pegos de surpresa, os poucos piauienses interessados no assunto logo iniciaram uma caça às bruxas: de quem é a culpa pelo Boi do Maranhão ter levado o título do Ministério da Cultura no lugar do Boi do Piauí? Por que o Maranhão nos tirou o título?
          As respostas são doloridas. A culpa é nossa. O decantado Boi do Piauí evoluiu muito no Maranhão – e também no Amazonas. O estado vizinho não nos tirou nada, apenas soube valorizar uma manifestação cultural genuína, incentivando seu consumo pelo grande público – os próprios maranhenses e turistas que visitam o estado.
           Não é de hoje que o Maranhão vende seu Boi junto a outros produtos turísticos Brasil afora. Quem já foi a São Luiz no período junino fica boquiaberto com as inúmeras quadras espalhadas pela cidade para receber uma infinidade de grupos de Boi da capital do interior. Boi do Maranhão é um espetáculo para quem quiser ver. O Boi do Piauí se contentou em ser original e autêntico.




          Por aqui alguns anos atrás tentou-se profissionalizar grupos de bumba-meu-boi de a e de cultura popular para que  pudessem se apresentar em eventos dos mais variados. Sem sucesso. Teresina não tem um segmento de turismo movimentado e houve resistência dos grupos em modificar os ritos de apresentação para torná-la mais ágil e atraente.
          Os grupos de bumba-meu-boi do Piauí permanecem um negócio familiar em nome  da tradição. São majestades durante os Folguedos de junho e memória nos demais meses do ano. O maranhense tem orgulho em dançar e assistir ao Boi. No Piauí, levar uma carreira durante a apresentação já está de bom tamanho.
           Cada um tem o Boi do tamanho que merece. Se os maranhenses ganharam um título importante e que os permite cobrar mais incentivos e proteção de um ministério insípido e silencioso, bom para eles. A nós cabe assistir e aprender mais essa lição sobre cultura – sem incentivo e valorização, nossas manifestações vão permanecer nos terreiros até desaparecer.
          Cereja do bolo, alguém levantou um porrete contra o Halloween, sugerindo que a Festa das Bruxas dos americanos é mais importante que as culturas locais.  Por que será? Ora, quem mais soube vender sua cultura para o mundo foram justamente os sobrinhos de Tio Sam. Para que melhor vitrine que o cinema americano? Quem aí não tem na memória um filme ou uma série – uma overdose do american way of life?
           Os americanos valorizam e defendem sua cultura com unhas e dentes e a vendem para um mundo ávido por consumi-la. Cultura é algo vivo e que precisa ter seu valor reconhecido por seus integrantes, para que possa ser divulgada e consumida por quem não a conhece. É assim que funciona em qualquer lugar do mundo.
           O que vai mudar no Boi do Piauí depois do Boi do Maranhão ter virado patrimônio imaterial do Brasil? Absolutamente nada. Já o maranhense terá mais orgulho e vai faturar muito mais atraindo multidões para ver um boi respeitado por todo o país. 

Texto: Eugênio Rego
Foto: Acervo Iphan

3 comentários:

Maria Helena disse...

O meu boi morreu que será de mim, manda buscar outro maninha lá no Maranhão. É isso que vai mudar. Vamos nos acomodar em ter o nosso boi morto , assim como deixamos morrer tantas outras manifestações genuínas de nossa cultura? Acho que não podemos permitir o silêncio diante do fato, mas sim tentar reavivar em nossa população a crença de que o Boi do Piauí merece viver e se fortalecer entre nós e diante do mundo. Parabéns professor Eugênio Rego por não deixar sem registro a perda de um valor nosso e lembrar que a responsabilidade por isso é de todos nós. Agora, vamos tentar reparar os erros e recuperar o tempo, reconstruindo a história. É nossa obrigação na academia, também.

Unknown disse...

O meu boi morreu que será de mim, manda buscar outro maninha lá no Maranhão. É isso que vai mudar. Vamos nos acomodar em ter o nosso boi morto , assim como deixamos morrer tantas outras manifestações genuínas de nossa cultura? Acho que não podemos permitir o silêncio diante do fato, mas sim tentar reavivar em nossa população a crença de que o Boi do Piauí merece viver e se fortalecer entre nós e diante do mundo. Parabéns professor Eugênio Rego por não deixar sem registro a perda de um valor nosso e lembrar que a responsabilidade por isso é de todos nós. Agora, vamos tentar reparar os erros e recuperar o tempo, reconstruindo a história. É nossa obrigação na academia, também.

Unknown disse...

O meu boi morreu que será de mim, manda buscar outro maninha lá no Maranhão. É isso que vai mudar. Vamos nos acomodar em ter o nosso boi morto , assim como deixamos morrer tantas outras manifestações genuínas de nossa cultura? Acho que não podemos permitir o silêncio diante do fato, mas sim tentar reavivar em nossa população a crença de que o Boi do Piauí merece viver e se fortalecer entre nós e diante do mundo. Parabéns professor Eugênio Rego por não deixar sem registro a perda de um valor nosso e lembrar que a responsabilidade por isso é de todos nós. Agora, vamos tentar reparar os erros e recuperar o tempo, reconstruindo a história. É nossa obrigação na academia, também.