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sábado, 12 de junho de 2010

Jornalismo Comunitário como ferramenta cidadã

Por: Mara Vanessa - 5º período - Jornalismo
mara.vanessa777@gmail.com - AGECOM


Após o período ditatorial e com a promulgação da Constituição Federal de 1988, o Brasil iniciou o processo de resistência política e social, abordando com mais clareza os direitos e garantias individuais dos cidadãos. Neste contexto, a Academia e os principais centros de Comunicação Social começaram a dar espaço para uma nova vertente de estudos e práticas jornalísticas, intitulada de Jornalismo Comunitário.

Décadas após a apresentação dos primeiros conceitos, a definição de Jornalismo Comunitário ainda é motivo de intensos debates teóricos, tendo em vista a complexa problemática que envolve este tema. Alguns autores consideram Jornalismo Comunitário como a prática comunicacional desenvolvida por grupos segmentados, independente dos interesses em questão. É o caso das abordagens que consideram publicações da Igreja e de setores do movimento negro, por exemplo, como comunitárias.

Outros teóricos defendem o papel de um mediador social, isto é, alguém habilitado para congregar e difundir conceitos para a comunidade. Ao destacar estas definições, parece mais palpável e próximo do ideal o conceito registrado por José Marques de Melo, para quem o Jornalismo Comunitário é

"(...) uma imprensa só pode ser considerada comunitária quando se estrutura e funciona como meio de comunicação autêntico de uma comunidade. Isto significa dizer: produzido pela e para a comunidade". [DE MELO, José Marques. Teoria do Jornalismo – identidades brasileiras. São Paulo, Paulus, 2006. p. 126]

Esta abordagem é alimentada pela pesquisadora Cicília Peruzzo, que entende a prática do Jornalismo Comunitário como

A participação das pessoas na produção e transmissão das mensagens, nos mecanismos de planejamento e na gestão de veículos de comunicação comunitária contribui para que elas se tornem sujeitos, se sintam capazes de fazer aquilo que estão acostumadas a receber pronto, se fazem protagonistas da comunicação e não apenas receptores. (PERUZZO, 2002)

A definição de Jornalismo Comunitário não pode estar isolada de ideias como identidade, sentimento de pertença, memória, representatividade e cidadania. Estes valores foram conquistados através de gerações que buscam – e continuam buscando – por uma sociedade mais justa, mais humana. Em uma breve síntese, foi a partir da Revolução Francesa de 1789 que se começou a traçar parâmetros igualitários. Não obstante, com a ascensão da burguesia e a expansão do capitalismo, uma classe dominante sobrepujou os interesses de uma grande fatia da população, transformando trabalho e mão de obra em ferramentas de exclusão e alienação. O resultado dessa prática pode ser observado nos grandes bolsões de pobreza e miséria em que vive uma população analfabeta, famélica e desprovida dos recursos básicos de subsistência.

É com esta realidade que a democratização da comunicação deve trabalhar; é neste espaço que o Jornalismo Comunitário deve gerar um sentimento de pertença, de representatividade. Se o Estado de Direito não está conseguindo valer a cláusula constitucional que versa “todos são iguais perante a lei”, as comunidades periféricas devem se fazer ouvir e valorizar por meio de produções genuínas, livres de filtros impostos pela grande mídia.

Ao utilizar um jornal de bairro para expor seus problemas, anseios, dúvidas e questionamentos, a comunidade resgata seu poder de voz; sua expressão social. Dentro da rádio comunitária – muitas vezes localizada em ambientes insalubres e paupérrimos –, aqueles membros esquecidos e silenciados pelo sistema de poder podem “gritar” suas opiniões por entre as ondas radiofônicas, chegando aos mais variados lares.

Entre várias formas de manifestação de resistência, a importância está em fazer valer os direitos e deveres conquistados e legitimados. A cidadania é muito mais do que utopia; é lei. Dentro dessa busca, o Jornalismo Comunitário deve atuar, provocando consciências.