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Foto: Assessoria CEUT
Prof. Solimar em palestra para o projeto Diálogos Necessários
No contexto atual, é imprescindível o trabalho da comunicação na construção de uma realidade cidadã em que prevaleça a igualdade entre direitos e deveres. Será que estamos vivenciando uma política social que garante a todos espaço e voz? Qual o papel da mídia nesse processo? De que forma podemos buscar a mudança do status quo [estado atual]? Essas e outras questões foram debatidas na entrevista realizada pelo AGECOM com o professor, doutor e pesquisador Solimar Oliveira Lima, piauiense comprometido com a luta pela diversidade. Confira.
AGECOM - O preconceito é uma estratégia de manutenção do poder? De que forma isso pode ser observado?
Prof. Solimar - Acredito que é preciso contextualizar o preconceito na sociedade capitalista, independentemente do grau de avanços tecnológicos, se mais ou menos desenvolvido. O capital, estruturalmente, não reconhece diferenças e desigualdades. Desde sua gênese, os princípios de liberdade e igualdade se tornaram fundantes de sua ideologia e fundamental para a sua hegemonia. Contudo, este mesmo capital gerou, sistematicamente, grupos sociais alijados da efetiva garantia dos principios capitalistas, impondo-lhes desvantagens e vulnerabilidades. Estas desigualdades são prontamente aproveitadas pelo capital para desqualificar e desvalorizar a força de trabalho, aumentando a exploração dos assalaridos e a concentração de capital. Os efeitos pervesos desse processo não precisa de formalidades. A história cultural de exclusão tece, informal e cotidianamente, seu funcionamento. Não existe, necessariamente, a escrita do veto. Tudo parece se organizar, a partir do subentendimento. Deste consenso social, brota a negação de tratamento e oportunidades igualitárias, basta observar as constragedoras estatísticas nacionais que revelam a precarização das condições de vida destes segmentos historicamente excluídos.
AGECOM - As campanhas de conscientização sobre a igualdade de direitos e deveres propostas pelo governo brasileiro atendem de forma justa e eficiente aos anseios dos grupos “minoritários” (cuja minoria representa apenas o difícil acesso às garantias individuais, posto que, no contexto atual, representam parcelas significativas da população)?
Prof. Solimar - As campanhas resultam da nova política pública no país. O estado brasileiro avançou no que respeita a sua atuação na garantia dos direitos fundamentais a partir da Constituição Federal de 1988. Entretanto, estes avanços são marcados por uma forte contradição. As ações afirmativas, onde entram as campanhas, possibiltariam a criação de uma cultura de segurança e autonomia na sociedade. Neste campo, os espaços públicos de representação de forças e interesses coletivos, exerceriam uma política conjunta de responsabilidade pública, voltada não só para segmentos tradicionalmente excluídos, mas para um processo de democratização e a inclusão de todos. Esta experiência de construção social, pautada na universalização dos direitos, na equidade e no empoderamento da sociedade, redesenharia, na política pública, uma nova cultura de responsabilidade social para segmentos da vida brasileira historicamente excluídos. O percurso da inclusão, tecnicamente, parece possível e perfeito pra o que desejam as novas relações capitalistas. Combater discrimanação e preconceito não é erradicar. Erradicar ainda não interessa ao capitalismo.
AGECOM - Ao lado do sociólogo Francisco de Oliveira Barros Júnior, o senhor coordena a Coleção Diversidades, obras publicadas pela Booklink Publicações e que abordam questões acerca da homossexualidade. De que forma esse trabalho têm modificado a sua vivência enquanto educador e militante?
Prof. Solimar - A convite da Editora Booklink, eu coordeno a Coleção Diversidades que tem como um dos objetivos pautar na acadêmia um maior dialogo entre esta e os movimentos sociais sobre tematicas diversas, mas que tratam de exclusão. O prof. Junior tem sido um parceiro nesta aventura, em especial pelo desafio de fazer este diálogo enfocando a nossa realidade, o Piauí. Organizamos juntos volumes sobre Aids, homossexualidade, precarização das relações de trabalho e estamos elaborando um sobre trabalho voluntário. Nossa ênfase, como dito, tem sido o Piauí e isto é muito inovador entre nós, sem duvida um desafio. Nossa academia ainda é muito conservadora e já fomos, por colegas, vitimas de preconceitos. Mas nada nos abala. Quem escolhe como objeto de estudo, pesquisa e militância a vida real de pessoas tão desumanizadas sabe das dores, mas sabe também dos prazeres e nada supera as conversas com jovens se (re)descobrindo a partir de um texto de um de nossos livros. Quando vivencio uma destas oportunidades, fica fortalecida em mim a força transgressora do educador e do militante. Costumo falar que faço uma ciência engajada, este é meu rumo e prumo.
AGECOM - Outra coisa que tem despertado a nossa atenção, como acadêmicos e futuros profissionais de comunicação, é o preconceito difundido de forma camuflada pela grande mídia, que usa a máscara de ferramenta igualitária e democrática. Essa segregação está presente nos programas humorísticos que se utilizam de referências pejorativas para arrancar risos da plateia, declarações homofóbicas e alusões ofensivas. Que tipo de cultura estão tentando conservar e/ou implementar na sociedade? Quais são os interesses que, sorrateiramente, estão sendo defendidos?
Prof. Solimar - A vida social brasileira mudou nos últimos anos e esta mudança é fruto do avanço das relações sociais. Mas esta transformação não é harmônica e nem poderia ser numa sociedade capitalista que, apesar de moderna, ainda conserva muito de atraso. A camuflagem é produto do meio. Não devemos, e constitucionalmente não podemos, ser discriminadores. Os princípios que regem nossa vida, neste campo, é de liberdade e igualdade. Porém, além de legalidade, os princípios necessitam de legitimidade. Entra, portanto, a sociedade. As proposições afirmativas devem apontar para uma agenda dos segmentos excluídos e da própria sociedade, que deve garantir os avanços especificos dos grupos sociais como condição para a universalização dos direitos sociais e cidadania, da sociedade em seu todo. Assim, se temos uma sociedade que vacila nesta defesa, a força de mercado tende a vender o que interessa a esta sociedade. E como quem tem tido mais força é o conservadorismo, é a ele que a comunicação de mercado atende, mesmo que as regras do mundo civilizado paute outro comportamento. Neste campo, a comunicação é muito experimental para lidar com velhos comportamentos, novas tendências.
AGECOM - Temas como escravidão colonial e relações de trabalho contemporâneas são abordados em seu livro “Sertão negro: escravidão e africanidades no Piauí”. Fale um pouco sobre a situação das minorias raciais no Estado e qual tem sido a política de resistência exercida pela mesma.
Prof. Solimar - A situação, na sua essência, permanece como antes, mas modificada na aparência. Exemplo é o mundo do trabalho. Temos uma economia dualista, com a presença de setores modernos em diferentes atividades produtivas. Contudo, esta produção, a exemplo de outras regiões do país, tende a ser cada vez mais flexivel, com máquinas genericas, com necesidade maior de trabalho humano mais intelectualmente qualificado, polivalente, multifuncional e participativo. Para criar, no entanto, seu trabalhador padrão, o mercado recria, com maior intensidade, uma massa de trabalhadores sem qualificação, desempregados ou em empregos temporários. Estes trabalhadores, coincidentemente com identidade no chamado campo das diversidades, acabam por formar uma heterogeneidade, uma subclasse que enfrenta, dentre outras mazelas, sérios limites para romper o estado de exclusão. No que tange à formação educacional (propagando mecanismo de mobilidae social), as estatísticas relativas à população negra são constrangedoras. Além disso, as negras e negros no mercado de trabalho, pela questão racial, enfrentam variadas dificuldades, como de acesso a postos de trabalho, mesmo os mais simples; a ocupação de cargos mais valorizados e remuneração diferenciada na execução das mesmas funções. Temos, como trabalhadores negros, resistido a estas condições com o mesmo empenho que enfrentamos as correntes da escravidão. Opressão parece sina, mas a liberdade e autonomia também!
AGECOM - Como os veículos midiáticos (televisão, rádio, internet, jornais) podem influenciar no papel da família, escolas e universidades no processo de formação da consciência dos indivíduos? Na sua opinião, essa influência tem apresentado resultados positivos?
Prof. Solimar - Estes meios de comunicação e a propaganda são fundamentais na formação da consciência coletiva. O capital sabe, os proprietários sabem e nós, sociedade, também. Agimos, contudo, de forma muito diversa frente a esta potência de constação. A sociedade, em que pese o esforço histórico em fortalecer sua força política, ainda carece de poder, ainda somos reféns da força de mercado e do Estado. Os espaços públicos e privados se comunicam e se complementam, não uma rígida sepação. Em todos, porém, há uma força predominante que na sociedade capitalista, mais ou menos democrática, tende a ser, estruturalmente, dominante. Como tal, precisa se manter e reproduzir, precisa passar a aparecer como o padrão social, como um dever moral da sociedade. O curioso é que em todos os espaços estamos falando muito em democracia, mas mais ainda em individualismos, e são estes valores últimos que tem norteado ações e fundam-se como orientação à juventude como expressão de êxito e sucesso. Esta contradição não é percebida, pois os espaços, especialmente, os de educação formal, em geral, perdem cada vez mais, por força ideológica, a capacidade da crítica. Percebo que em algumas áreas há um sério comprometimento das gerações futuras, as pessoas estão ganhando habilidade técnica, mas seguem feitos carneirinhos para atuação em sociedade. Acho inconcebível um aluno da comunicação e propaganda sair da faculdade sem uma sólida leitura da realidade capitalista, por exemplo.
AGECOM - Tendo em vista o modelo de Estado no qual estamos vivenciado e os discursos difundidos pela imprensa, de que forma a comunidade estudantil pode se mobilizar em prol de mudanças?
Prof. Solimar - Defendendo e exigindo que os espaços de educação formal, como a graduação por exemplo, sejam espaços da ciência. O conhecimento científico é crítico, isto é fundamental para a efetiva participação política. Entretanto, alguns professores parecem pouco preocupados com este fato. Chegam ao desiderato de defender uma ciência apolítica. Esta construção imagética se tornou conduta recorrente no meio acadêmico, deslegitimando, execrando e silenciando reflexões adversas, e o que é pior, empobrecendo o debate e a compreensão da realidade, sobretudo para quem mais precisa enxergar e desvelar as ciladas do pensamento liberal fortemente presente na academia. Colocam, com esta postura, deliberadamente, em perigo, a sobrevivência da ciência e da própria vida humana, uma vez que buscam esvaziar instintos e potenciais intrínsecos ao pesquisador e a humanidade, como reflexão e ação. Não estou dizendo que o conjunto dos profesores deve ser engajado politicamente por uma outra ordem, mas deve ser comprometido com a pluralidade de idéias e a critica a realidade.
AGECOM - Paradigmas, convenções e princípios adotados pela sociedade parecem estar maculados pelo câncer da segregação. A pergunta é: ainda temos chance de cura?
Prof. Solimar - Sim. Só depende de nós. Parece lugar comum, mas não podemos esperar que as outras forças tomem, deliberadamente e em definito, em suas mãos a condução de nossas vidas. Mesmo aqueles que defendem a manutenção desta ordem social já defendem também a participação da sociedade no processo politico. Quando falo sociedade, refiro-me aqueles setores que necessitam, de fato, da democratização para o acesso a condições dignas de vida. Precisamos, portanto, fortalecer os setores da sociedade que necessitam de poder. Poder para garantir direitos individuais e coletivos. Este é o poder exercido pela sociedade, em favor da sociedade.
Prof. Solimar - Acredito que é preciso contextualizar o preconceito na sociedade capitalista, independentemente do grau de avanços tecnológicos, se mais ou menos desenvolvido. O capital, estruturalmente, não reconhece diferenças e desigualdades. Desde sua gênese, os princípios de liberdade e igualdade se tornaram fundantes de sua ideologia e fundamental para a sua hegemonia. Contudo, este mesmo capital gerou, sistematicamente, grupos sociais alijados da efetiva garantia dos principios capitalistas, impondo-lhes desvantagens e vulnerabilidades. Estas desigualdades são prontamente aproveitadas pelo capital para desqualificar e desvalorizar a força de trabalho, aumentando a exploração dos assalaridos e a concentração de capital. Os efeitos pervesos desse processo não precisa de formalidades. A história cultural de exclusão tece, informal e cotidianamente, seu funcionamento. Não existe, necessariamente, a escrita do veto. Tudo parece se organizar, a partir do subentendimento. Deste consenso social, brota a negação de tratamento e oportunidades igualitárias, basta observar as constragedoras estatísticas nacionais que revelam a precarização das condições de vida destes segmentos historicamente excluídos.
AGECOM - As campanhas de conscientização sobre a igualdade de direitos e deveres propostas pelo governo brasileiro atendem de forma justa e eficiente aos anseios dos grupos “minoritários” (cuja minoria representa apenas o difícil acesso às garantias individuais, posto que, no contexto atual, representam parcelas significativas da população)?
Prof. Solimar - As campanhas resultam da nova política pública no país. O estado brasileiro avançou no que respeita a sua atuação na garantia dos direitos fundamentais a partir da Constituição Federal de 1988. Entretanto, estes avanços são marcados por uma forte contradição. As ações afirmativas, onde entram as campanhas, possibiltariam a criação de uma cultura de segurança e autonomia na sociedade. Neste campo, os espaços públicos de representação de forças e interesses coletivos, exerceriam uma política conjunta de responsabilidade pública, voltada não só para segmentos tradicionalmente excluídos, mas para um processo de democratização e a inclusão de todos. Esta experiência de construção social, pautada na universalização dos direitos, na equidade e no empoderamento da sociedade, redesenharia, na política pública, uma nova cultura de responsabilidade social para segmentos da vida brasileira historicamente excluídos. O percurso da inclusão, tecnicamente, parece possível e perfeito pra o que desejam as novas relações capitalistas. Combater discrimanação e preconceito não é erradicar. Erradicar ainda não interessa ao capitalismo.
AGECOM - Ao lado do sociólogo Francisco de Oliveira Barros Júnior, o senhor coordena a Coleção Diversidades, obras publicadas pela Booklink Publicações e que abordam questões acerca da homossexualidade. De que forma esse trabalho têm modificado a sua vivência enquanto educador e militante?
Prof. Solimar - A convite da Editora Booklink, eu coordeno a Coleção Diversidades que tem como um dos objetivos pautar na acadêmia um maior dialogo entre esta e os movimentos sociais sobre tematicas diversas, mas que tratam de exclusão. O prof. Junior tem sido um parceiro nesta aventura, em especial pelo desafio de fazer este diálogo enfocando a nossa realidade, o Piauí. Organizamos juntos volumes sobre Aids, homossexualidade, precarização das relações de trabalho e estamos elaborando um sobre trabalho voluntário. Nossa ênfase, como dito, tem sido o Piauí e isto é muito inovador entre nós, sem duvida um desafio. Nossa academia ainda é muito conservadora e já fomos, por colegas, vitimas de preconceitos. Mas nada nos abala. Quem escolhe como objeto de estudo, pesquisa e militância a vida real de pessoas tão desumanizadas sabe das dores, mas sabe também dos prazeres e nada supera as conversas com jovens se (re)descobrindo a partir de um texto de um de nossos livros. Quando vivencio uma destas oportunidades, fica fortalecida em mim a força transgressora do educador e do militante. Costumo falar que faço uma ciência engajada, este é meu rumo e prumo.
AGECOM - Outra coisa que tem despertado a nossa atenção, como acadêmicos e futuros profissionais de comunicação, é o preconceito difundido de forma camuflada pela grande mídia, que usa a máscara de ferramenta igualitária e democrática. Essa segregação está presente nos programas humorísticos que se utilizam de referências pejorativas para arrancar risos da plateia, declarações homofóbicas e alusões ofensivas. Que tipo de cultura estão tentando conservar e/ou implementar na sociedade? Quais são os interesses que, sorrateiramente, estão sendo defendidos?
Prof. Solimar - A vida social brasileira mudou nos últimos anos e esta mudança é fruto do avanço das relações sociais. Mas esta transformação não é harmônica e nem poderia ser numa sociedade capitalista que, apesar de moderna, ainda conserva muito de atraso. A camuflagem é produto do meio. Não devemos, e constitucionalmente não podemos, ser discriminadores. Os princípios que regem nossa vida, neste campo, é de liberdade e igualdade. Porém, além de legalidade, os princípios necessitam de legitimidade. Entra, portanto, a sociedade. As proposições afirmativas devem apontar para uma agenda dos segmentos excluídos e da própria sociedade, que deve garantir os avanços especificos dos grupos sociais como condição para a universalização dos direitos sociais e cidadania, da sociedade em seu todo. Assim, se temos uma sociedade que vacila nesta defesa, a força de mercado tende a vender o que interessa a esta sociedade. E como quem tem tido mais força é o conservadorismo, é a ele que a comunicação de mercado atende, mesmo que as regras do mundo civilizado paute outro comportamento. Neste campo, a comunicação é muito experimental para lidar com velhos comportamentos, novas tendências.
AGECOM - Temas como escravidão colonial e relações de trabalho contemporâneas são abordados em seu livro “Sertão negro: escravidão e africanidades no Piauí”. Fale um pouco sobre a situação das minorias raciais no Estado e qual tem sido a política de resistência exercida pela mesma.
Prof. Solimar - A situação, na sua essência, permanece como antes, mas modificada na aparência. Exemplo é o mundo do trabalho. Temos uma economia dualista, com a presença de setores modernos em diferentes atividades produtivas. Contudo, esta produção, a exemplo de outras regiões do país, tende a ser cada vez mais flexivel, com máquinas genericas, com necesidade maior de trabalho humano mais intelectualmente qualificado, polivalente, multifuncional e participativo. Para criar, no entanto, seu trabalhador padrão, o mercado recria, com maior intensidade, uma massa de trabalhadores sem qualificação, desempregados ou em empregos temporários. Estes trabalhadores, coincidentemente com identidade no chamado campo das diversidades, acabam por formar uma heterogeneidade, uma subclasse que enfrenta, dentre outras mazelas, sérios limites para romper o estado de exclusão. No que tange à formação educacional (propagando mecanismo de mobilidae social), as estatísticas relativas à população negra são constrangedoras. Além disso, as negras e negros no mercado de trabalho, pela questão racial, enfrentam variadas dificuldades, como de acesso a postos de trabalho, mesmo os mais simples; a ocupação de cargos mais valorizados e remuneração diferenciada na execução das mesmas funções. Temos, como trabalhadores negros, resistido a estas condições com o mesmo empenho que enfrentamos as correntes da escravidão. Opressão parece sina, mas a liberdade e autonomia também!
AGECOM - Como os veículos midiáticos (televisão, rádio, internet, jornais) podem influenciar no papel da família, escolas e universidades no processo de formação da consciência dos indivíduos? Na sua opinião, essa influência tem apresentado resultados positivos?
Prof. Solimar - Estes meios de comunicação e a propaganda são fundamentais na formação da consciência coletiva. O capital sabe, os proprietários sabem e nós, sociedade, também. Agimos, contudo, de forma muito diversa frente a esta potência de constação. A sociedade, em que pese o esforço histórico em fortalecer sua força política, ainda carece de poder, ainda somos reféns da força de mercado e do Estado. Os espaços públicos e privados se comunicam e se complementam, não uma rígida sepação. Em todos, porém, há uma força predominante que na sociedade capitalista, mais ou menos democrática, tende a ser, estruturalmente, dominante. Como tal, precisa se manter e reproduzir, precisa passar a aparecer como o padrão social, como um dever moral da sociedade. O curioso é que em todos os espaços estamos falando muito em democracia, mas mais ainda em individualismos, e são estes valores últimos que tem norteado ações e fundam-se como orientação à juventude como expressão de êxito e sucesso. Esta contradição não é percebida, pois os espaços, especialmente, os de educação formal, em geral, perdem cada vez mais, por força ideológica, a capacidade da crítica. Percebo que em algumas áreas há um sério comprometimento das gerações futuras, as pessoas estão ganhando habilidade técnica, mas seguem feitos carneirinhos para atuação em sociedade. Acho inconcebível um aluno da comunicação e propaganda sair da faculdade sem uma sólida leitura da realidade capitalista, por exemplo.
AGECOM - Tendo em vista o modelo de Estado no qual estamos vivenciado e os discursos difundidos pela imprensa, de que forma a comunidade estudantil pode se mobilizar em prol de mudanças?
Prof. Solimar - Defendendo e exigindo que os espaços de educação formal, como a graduação por exemplo, sejam espaços da ciência. O conhecimento científico é crítico, isto é fundamental para a efetiva participação política. Entretanto, alguns professores parecem pouco preocupados com este fato. Chegam ao desiderato de defender uma ciência apolítica. Esta construção imagética se tornou conduta recorrente no meio acadêmico, deslegitimando, execrando e silenciando reflexões adversas, e o que é pior, empobrecendo o debate e a compreensão da realidade, sobretudo para quem mais precisa enxergar e desvelar as ciladas do pensamento liberal fortemente presente na academia. Colocam, com esta postura, deliberadamente, em perigo, a sobrevivência da ciência e da própria vida humana, uma vez que buscam esvaziar instintos e potenciais intrínsecos ao pesquisador e a humanidade, como reflexão e ação. Não estou dizendo que o conjunto dos profesores deve ser engajado politicamente por uma outra ordem, mas deve ser comprometido com a pluralidade de idéias e a critica a realidade.
AGECOM - Paradigmas, convenções e princípios adotados pela sociedade parecem estar maculados pelo câncer da segregação. A pergunta é: ainda temos chance de cura?
Prof. Solimar - Sim. Só depende de nós. Parece lugar comum, mas não podemos esperar que as outras forças tomem, deliberadamente e em definito, em suas mãos a condução de nossas vidas. Mesmo aqueles que defendem a manutenção desta ordem social já defendem também a participação da sociedade no processo politico. Quando falo sociedade, refiro-me aqueles setores que necessitam, de fato, da democratização para o acesso a condições dignas de vida. Precisamos, portanto, fortalecer os setores da sociedade que necessitam de poder. Poder para garantir direitos individuais e coletivos. Este é o poder exercido pela sociedade, em favor da sociedade.
Um comentário:
Brilhante trabalho de jornalismo, pautado em uma entrevista consistentemente preparada por pesquisa do tema a ser tratado. Um exemplo que a Mara Vanessa dá como estudante e cidadã.
Do outro lado reflexões significativas oriundas do conhecimento produzido na atividade de pesquisa, educaçãio e militância. Um exemplo que o professor Solimar nos dá de professor e cidadão.
Execelente fruto do Diálogos Necessários. Torço para que muitos possam degustá-lo.
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