terça-feira, 15 de junho de 2010

Show do Krisiun em Teresina: Reunião de amigos

Por: Mara Vanessa - 5º período - Jornalismo
mara.vanessa777@gmail.com - AGECOM

Krisiun ao vivo - foto por Igor Jms

Há pelo menos uma semana e meia, eu estou tentando construir algumas palavras descritivas sobre o último show do Krisiun (trio-napalm) em Teresina, ocorrido no dia 05 de junho deste ano, no complexo cultural Bueiro do Rock. Comecei, recomecei, e percebi que apenas descrever performances, enumerar set lists das bandas e falar sobre o entrosamento do público seria apenas uma tentativa frustrada de tentar rotular algo que não se rotula. Você deve estar aí se perguntando do que se trata, e eu tenho uma única frase para oferecer: União e amizade são os elementos que caracterizam nosso cenário banger.

Neste dia 05, eu pude conferir a apresentação de bandas que, antes de tudo, acreditam nos seus sonhos; perseveram. Não é segredo para ninguém o grau de dificuldade que é se manter como profissional da música pesada no Brasil, em especial no Nordeste, região que está fora da circulação de investimentos do eixo Sudeste – Sul. Mesmo com todas as velhas e conhecidas dificuldades (falta de verba, espaço e apoio), nossas bandas e organizadores têm se mostrado verdadeiros gladiadores, acreditando no potencial e no poder da determinação, fator que pode ser observado a olho nu por qualquer um que se habilite.

Ao chegar ao local do show, notei, ainda fora dos portões, o clima de interação do público. Ninguém parecia estar lá apenas para marcar presença em um grande show, mas sim, para rever amigos, tomar uma dose e se divertir. Muita gente de São Luís (MA) e Petrolina (PE) viajou por horas para estar ali, compartilhando conosco experiências e amizade. A primeira banda escalada foi a Apple Juice, que traz no line-up os irmãos e organizadores do evento Dieudes Laenio (guitarra e vocal) e Drienio Rogério (baixo), ao lado do baterista Netão. Executando um hardcore direto, com claras influências de D.R.I, Ação Direta e Ratos de Porão, a banda mostrou que o sentimento oitentista hardcore/punk ainda está muito vivo.

Na sequência, o palco recebeu os ‘desgraçados’ Jardel Desgraça (guitarra e vocal), Vadison Maldito (baixo) e Dubar (bateria), que, aos meus olhos, protagonizaram um dos shows mais espetaculares dos últimos tempos aqui em Teresina. Quando a banda iniciou a montagem dos equipamentos, o público se aglomerava diante do palco, de onde também se podia ouvir um coro feminino gritando Desgraça (pausa) Maldita. Como o próprio nome sugere, nem preciso frisar que as moças pareciam clamar pelo começo dos petardos sonoros, e não pelo galanteio dos músicos. Ao iniciar os primeiros riffs, a pancadaria começou. Mais do que em qualquer outro momento, notei que a Desgraça Maldita conta com um público fiel e que faz jus ao Metal Extremo avassalador que eles protagonizam. Longe das mega-produções e da postura “star-overdub-mainstream”, o trio incendiou o Bueiro do Rock com faixas do debut ‘Lástimas e Pragas’, lotada de riffs cortantes, parceria entre baixo e bateria para ninguém colocar defeito e, acima de tudo, autenticidade. Também vale frisar a conexão – bem anos 80 – que os músicos pareciam ter com o público.

A propósito, todo o evento me remeteu aos anos 1980 e àquele espírito de camaradagem que circulava nas casas de shows e rodas do gênero. Sinto que tudo que não vivi e que conheço apenas na teoria (já que nasci no final dos anos dourados do Heavy Metal) anda ganhando uma forma personificada, com identidade própria e atualizada dentro do contexto. Ainda volto a falar sobre isso em outra oportunidade.

Dando prosseguimento, o público contou com a proposta dos guerreiros do Obtus. Há quase quinze anos na ativa, o grupo valoriza o feeling revolucionário que ainda hoje arde nas nossas veias. Revolta contra o sistema, contra a corrupção política, contra a miséria, desigualdade e ódio provocado pelas ações pestilentas do homem. Tudo isso e muito mais tem sido representado por Chakal (vocais), Eduardo (guitarra), Assis (bateria), Erivelto (baixo) e Neto (guitarra). Hardcore brutal e sem direito a camuflagens faz do Obtus um dos maiores representantes piauienses do gênero. A cada novo show, a banda contamina o público presente e angaria novos fãs. Neste show do dia 05, a coisa não foi diferente. Na metade do show, a banda incitou a plateia a formar um ‘beco-bélico’, trazendo à tona uma prática bem conhecida dos headbangers: o mosh pit. Fantástico! O tsunami se alastrou até perto da mesa de som, localizada em uma distância considerável do palco. Apresentação digna de registro.

E fechando à noite, o Piauí recebeu o trio-napalm Krisiun. Os gaúchos estavam muito à vontade e detonaram em mais de uma hora as vociferações que os consagram nos quatro cantos do planeta. Agressividade, velocidade e peso, associados a muita técnica, distribuíram todos os momentos do show, além da emocionante homenagem ao mestre DIO (também iniciada pelo Desgraça Maldita). A apresentação de Alex Camargo (baixo e vocal) e Moyses Kolesne (guitarra) e do baterista Max Kolesne não deixou a desejar em absolutamente nada. Os piauienses também contaram com um solo de Max, músico que tem se destacado no cenário mundial como o dono das baquetas mais velozes e brutais do Metal Extremo.

Ao final, os caras receberam o público para autógrafos, papo descontraído e fotos. Durante a permanência do trio-napalm em terras piauienses, houve várias ‘confraternizações’ bem ao estilo “chega e fica por aí bebendo com a gente”, típico do nosso meio. Percebi que fazer parte de tudo isso e estar presente nos shows que a galera do Bueiro, do Clóvis e os outros organizadores fazem por aqui – com tanta dedicação e doação – tem me feito entender o que significa lutar por aquilo em que se acredita. Pode parecer meio romântico falar dessa forma, mas acho que consegui entender que todos nós, headbangers, não somos apenas uma comunidade de apreciadores do estilo musical mais pesado do globo.

Apesar das divergências que hora ou outra surgem, nós somos uma espécie de “irmãos do Metal”, como bem frisou o Jardel no show. Somos pessoas com ideias diferentes, vidas opostas mas que, em momentos como o do dia 05 de junho, nos tornamos um só: apaixonados por aquilo em que acreditamos e, mais do que nunca, pela amizade que cultivamos.


Publicado originalmente no portal O Dia, coluna Distorção

Nenhum comentário: