terça-feira, 10 de agosto de 2010

A palavra é arma de cidadania

Por: Mara Vanessa - 6° período - Jornalismo
mara.vanessa777@gmail.com - especial jornal MATRACA


“Política não é profissão. Política é prestação de serviço.” Com essa afirmativa, o estudante Leonardo Freitas, 20 anos, define como a atividade política deveria ser concebida, tanto pelos ocupantes dos cargos, como pela grande fatia da sociedade. Segundo ele, a política deve ser usada “para servir à sociedade, e não o contrário”.

O histórico político brasileiro tem revelado inúmeras contradições. Escândalos e manobras oportunistas têm sido observados constantemente na administração pública, como é o caso do esquema de corrupção do qual é acusado o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, e os atos secretos que explodiram no ano passado contra o presidente do Senado, José Sarney. Em 2005, o Brasil vivenciou o Escândalo do Mensalão, caracterizado pelo esquema que comprava votos de parlamentares para aprovação de projetos do interesse do Poder Executivo. Quais os efeitos desses acontecimentos nesta época pré-eleitoral, em que o país vive momentos de dúvida e incerteza? O descrédito da população é um deles. A dona de casa Rosa Costa, de 50 anos, classifica a classe política como um “pesadelo imoral, que nunca será visto com bons olhos”.

“Esse povo só pensa em roubar, em tirar vantagem. Toda eleição é a mesma coisa. Eu saio de casa cedo, pois voto no interior do Piauí, e volto tarde. Não gosto de fazer isso, mas faço para ver se alguma coisa muda, mas nunca muda”, desabafa. Ela argumenta que as práticas e discursos políticos “não se renovam, não tem diferença nenhuma das eleições passadas”.

Esta repetição a qual Rosa Costa se refere pode ser constatada no atual cenário político piauiense, onde, às vésperas do lançamento de candidaturas, a sociedade se vê às voltas com crises e desavenças internas dos partidos, acompanhadas do bate-boca de pretensos candidatos. “Essa fase que antecede a campanha ainda está muito no disse-me-disse e isso espelha os conchavos políticos que estão ou podem ser feitos”, afirma o professor universitário e jornalista Eugênio Rego, 35 anos.

O educador acredita que a “política ideal é aquela em que os políticos assumem compromisso real com os problemas da população e esquecem os interesses pessoais em prol do coletivo”. Pensamento que acompanha a geração de Lorenna Morais, 20 anos. A estudante diz que “o cenário político está triste. Os candidatos se atropelam, querem passar um por cima do outro. O ataque entre governo e oposição virou a única ferramenta de proposta”.

Ela acrescenta que “a política deveria mudar, principalmente em trabalho, e mostrar que realmente se preocupa com nosso Estado, e que entende o que se passa nas nossas vidas”.

Representar os anseios sociais e fomentar a ampliação da cidadania plena, onde o usufruto dos direitos civis, políticos e sociais são efetivamente assegurados, é papel primordial dos três poderes da União: Executivo, Legislativo e Judiciário.


Políticos e sociedade: entenda a relação


O cientista político Vítor Sandes, autor da primeira dissertação do Mestrado em Ciência Política da Universidade Federal do Piauí – UFPI, interpreta o atual quadro político piauiense como “um processo de rearticulação política. As saídas de Wellington Dias do Governo do Estado e de Sílvio Mendes da Prefeitura de Teresina possibilitaram a abertura de um leque de possíveis novos cenários que poderão surgir a partir de 2011”. Vítor Sandes destaca que “a possibilidade de mudanças parciais ou totais nos grupos dirigentes do estado é inerente à própria atividade política em contexto democrático”.

Em relação aos altos índices de práticas criminosas executadas no âmbito eleitoral piauiense, o cientista político afirma que “não só no Piauí ocorre um número demasiado de crimes eleitorais. Práticas ilegais no âmbito da política eleitoral estão disseminadas, propriamente, na relação representante-representado”.

Em relação aos prejuízos sociais ocasionados por este tipo de conduta ilícita, Sandes afirma que “eles são incontáveis. A compra de votos, por exemplo, cria uma relação de dependência direta do eleitor com o político, em vez de estimular a discussão de propostas e ideias para o desenvolvimento da sociedade”.

Quando questionado sobre de que forma podem ser identificadas práticas ligadas à ‘politicagem’ [denominação dada às práticas políticas desonestas e inescrupulosas], Vítor Sandes sustenta: “A politicagem é sustentada por eleitores e políticos que pensam o acesso aos cargos públicos como uma forma eficaz de se obter vantagens econômicas e não como um meio de se fazer mudanças sociais significativas”.

“Os candidatos devem prestar contas de suas atividades para a sociedade, pois os políticos são representantes da sociedade. Cabe a nós escolher os políticos que melhor nos representam. Portanto, o ato de escolha de um candidato por um eleitor é, antes de tudo, a escolha de um projeto para a sociedade”, enfatiza.


Jornalismo Político é meio de exclusão

As intrigas e alfinetadas entre adversários e aliados são retratadas constantemente pela mídia e, infelizmente, nem sempre apresentam profundidade de conteúdo e informações, excluindo o grande público, para quem, verdadeiramente, as notícias deveriam ser direcionadas.

O jornalista Rômulo Maia, fruto da nova safra de diplomados, entende que a mídia empresarial, como um todo, exclui o grande público. “Se ela atende a interesses empresariais, de grupos em busca de fatias da economia e do poder político piauiense e brasileiro, ela exclui”, revela.

Ele ainda acrescenta: “A Malhação [novela veiculada pela Rede Globo e dirigida ao público adolescente-jovem], por exemplo, somos nós? Reflete a juventude, o ensino brasileiro? O seu João, que mora em uma casa de taipa lá no interior de Pio IX, um dia vai poder acessar os serviços do Itaú Personnalité, aquele cartão de crédito cheio de vantagens que a propaganda mostra? A redistribuição fundiária do país é mesmo coisa de baderneiro, como diz o apresentador do Jornal Nacional, ou é um importante instrumento de luta e transformação social do povo pobre brasileiro? As viagens e festas que o Rivanildo Feitosa [colunista social] transmite em seu programa, interessam a quem, além dos ricaços do Piauí? E quem são os ricos do Piauí? Uma minoria. Mesmo assim o programa vai ao ar toda semana. O jornalismo político não foge a essa regra. Salve algumas e raras exceções, atende aos interesses dos donos da empresa ou dos que pagam as cotas de patrocínio. Ou seja: passa ao público mensagens forjadas ou incompletas em benefício de grupos, excluindo o grande público”, arremata.

Segundo o jornalista Rômulo Maia, ainda hoje, em pleno século XXI, a liberdade de imprensa é objeto de censura, agora feita de forma tácita. “A imprensa sofre censura sim, principalmente dos patrões, que operam sempre em benefício próprio. Há também ameaças de processos ou de “não dar mais entrevistas” partindo de autoridades e gestores”, revela.

Direitos de Cidadania

É delicado afirmar que há “tipos” de cidadania, pois é possível apontar diferentes significados para a cidadania desde a Antiguidade Clássica até o século XX. Trata-se de um conceito em constante mudança, refletindo valores jurídicos, sociais e políticos da(s) sociedade(s) através dos tempos.

Teóricos como o sociólogo britânico Thomas Humphrey Marshall e a cientista social brasileira Maria de Lourdes Manzini-Covre sugerem a generalização da idéia de cidadania em termos de direitos e tipos, discernindo-os sociológica e juridicamente, mas observando sua interdependência.

São eles:

Direito Civil: Diz respeito à liberdade individual [direito à locomoção, liberdade de expressão, segurança, etc.];

Direito político: Diz respeito à participação popular no governo [convivência e organização social por meio de organismos de representação direta (sindicatos, partidos, movimentos sociais, associações de bairro) e representação indireta (pela eleição de governantes, parlamento, assembléia);

Direito Social: Diz respeito às obrigações de cada indivíduo para a manutenção da sociedade como um todo coeso e ao atendimento das necessidades humanas básicas, tais como saúde, alimentação, educação.

Em tempos de eleição, outra forma de fazer valer a sua cidadania é estar atento aos crimes eleitorais, que prejudicam o andamento da eleição em qualquer uma de suas fases. Esses crimes estão previstos no Código Eleitoral e na Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990 (Lei geral das eleições).


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