quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Psicóloga conversa sobre o mundo virtual durante a V Semana Comceut

Fotos: Arquivo Pessoal
A psicóloga e psicanalista Vanuza Postigo é uma das palestrantes da V Semana Comceut. Em entrevista para a Agecom, Vanuza fala sobre os “quinze minutos de fama” preconizados por Andy Warhol ainda na década de 60, a importância que as pessoas dão a fama, o mundo virtual e mais. Confira.
- Sua palestra será sobre os quinze minutos de fama preconizados por Andy Warhol. Hoje em dia, todo mundo quer ser famoso. Como você analisa a necessidade da fama que as pessoas alimentam na sociedade atual?
          Como psicóloga e psicanalista o meu olhar se dedica a compreender o processo de construção da subjetivação e do processo identitário envolvidos nesse desejo de fama dos indivíduos da atualidade. Para além da questão da fama entre os ditos famosos, me interessa principalmente o desejo de fama dos anônimos, dos sujeitos do cotidiano.
          E para compreender esse desejo de fama temos que observar o entrelaçamento do sujeito com a cultura à qual pertence, pois a construção da subjetividade e da identidade do sujeito é obviamente referenciada à cultura à qual pertence e a nossa cultura contemporânea é hoje atravessada pela cena midiática. A “fama” se torna uma forma de aprovação e aceitação do “indivíduo-produto” que constrói e afirma sua identidade a partir do outro, do público, da plateia.

- De onde surgiu o seu interesse para estudar sobre o assunto?
          Meu interesse veio da minha inserção no universo virtual, como usuária da Internet e de redes sociais de relacionamento.  A fama, o desejo e evocação do olhar alheio, como desejar ser seguido no twitter, ter 5000 amigos na Facebook, possuir 1000 conexões no Linkedin, ter as fotos curtidas no Instagram, ganham destaque em nosso universo contemporâneo e se tornam parte de uma existência conectada e em rede.
          Sou fascinada pela interação e compartilhamento das existências virtuais na web. O fenômeno brasileiro como foi o Orkut no Brasil, que chegou a mudar sua sede para o nosso país, é uma exemplo da maciça adesão que fazemos à redes. Fato aliás que se repete agora com o Facebook. É impressionante o desejo de visibilidade e exposição envolvidos nessas práticas sociais on line e a fama, ser famoso ainda que para poucos, é um dos motivadores do sucesso das redes no mundo todo.
          Outro aspecto importante é o poder dado ao usuário na mídia como um todo. É um blog sobre determinado tema que explode como um sucesso de acessos, é uma música postada no Youtube que se torna viral, é a possibilidade de mandar uma foto para um renomado jornal on line e se tornar o “repórter” de um “furo” e ganhar fama.
 
- Qual a importância de se discutir as o espetáculo das Celebridades na sociedade atual?
          É fundamental que possamos ter uma discussão e uma postura crítica em relação aos imperativos ofertados pela nossa cultura para que possamos nos posicionar como sujeitos e para que possamos tramitar por esse universo de maneira consciente.
          Viver uma sociedade atravessada pela cena midiática e suas consequências, como a imagética, a efemeridade, a descartabilidade, o imediatismo e o consumo podem trazer bastante sofrimento psíquico aos indivíduos que se veem atravessados por essas exigências.

Vivemos um tempo onde a profundidade e o investimento não são incentivados, pois estimula-se uma rotatividade e circulação típicas da sociedade do consumo que atropela o sujeito: temos que sempre nos investir e nos valorizar como “produtos” aptos para o mercado de consumo.
          Hoje as pessoas não podem mais sofrer por amor, com o final de um relacionamento amoroso, pois a máxima se tornou “a fila anda”! Não perca seu tempo, não faça um “luto” pelo que perdeu, dê a volta por cima e volte para o mercado do amor para consumir!  No plano profissional, não perca tempo, não se aprofunde, não fique muito tempo em uma mesma empresa ou função: seja o profissional da alta rotatividade, mude de emprego, faça rodízio de funções. Considero fundamental, urgente e profícua essa problematização do tema que vamos debater na Semana de Comunicação da Ceut!


Entrevista: Mara Dallena/ Ascom Semana Comceut

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